Doença Celíaca: diagnosticar é preciso!
Olá! Meu nome é Daniele Kiatkoski. Eu sou médica gastroenterologista pela FBG - Federação Brasileira de Gastroenterologia, sou consultora técnica da FENACELBRA e especialista em Doença Celíaca e Desordens Relacionadas ao Glúten pela Universidade Salvador, de Buenos Aires (Argentina).
Nesse ano de 2022 a FENACELBRA está com a campanha “Doença Celíaca: diagnosticar é preciso”. Por que é tão importante obtermos um diagnóstico de Doença Celíaca?
É sabido que a doença celíaca é uma doença genética, autoimune e que afeta o intestino quando em contato com o glúten em indivíduos que são predispostos geneticamente.
O que acontece quando não ocorre esse diagnóstico?
O paciente celíaco não diagnosticado apresenta muitos sintomas e de forma muito variável. É importante lembrarmos que a doença celíaca não é uma doença meramente intestinal - é uma doença sistêmica e portanto seus sintomas são os mais diversos possíveis. Eles podem variar desde uma queda de cabelo, unhas frágeis, pele mais ressecada ou com pequenas lesões ou prurido ou coceira até sintomas mais importantes como diarreia, constipação, déficit de crescimento nas crianças, perda de peso, abortamentos de repetição, infertilidade. Vejam que o leque de sintomatologia é muito grande e por isso torna o diagnóstico tão difícil.
É sabido que esse paciente percorre um caminho muito longo e muito árduo até obter o seu diagnóstico. Eu costumo dizer que o diagnóstico de doença celíaca é um diagnóstico de saúde, é um diagnóstico de libertação, onde você deixa toda essa vida cheia de sintomas, desconfortos e dores para uma vida plena, onde você consegue ficar saudável finalmente.
Quando não há o diagnóstico as consequências podem ser muito importantes, muito graves. O fato de não ter sintomas não significa ausência de complicações pela falta do diagnóstico.
Vamos começar do mais simples: alteração da absorção intestinal. Todas as vezes que o celíaco entra em contato com o glúten o seu intestino é lesado. Imagine que nosso intestino se parece com os dedos de uma luva. Nós temos toda essa área de absorção, que são as nossas vilosidades e as criptas. Essa área de absorção é enorme. Na Doença Celíaca acontece a proliferação, o aumento, a multiplicação de umas células na mucosa, que são os linfócitos. Esses linfócitos mandam uma mensagem para nossas vilosidades. Eles dizem assim: “essa vilosidade está velha, pode quebrar, ela está estragada”. Nosso intestino entende, destrói a vilosidade e a área de absorção diminui muito. Então quando ingerimos qualquer nutriente, se tivermos uma área de absorção grande, todos os nossos nutrientes serão absorvidos. No paciente celíaco não tratado essa área é mínima, então acontece uma alteração de absorção. Com isso surgem as anemias, déficit de vitaminas, ferro e nutrientes em geral. Essa é a complicação mais básica.
Porém, lembra que eu falei que essa é uma doença não meramente intestinal? Outras coisas vão acontecer. Por exemplo, osteopenia, osteoporose, ossos mais frágeis que podem levar a fraturas de repetição, infertilidade ou abortamento de repetição. Pode levar a menarca tardia (primeira menstruação na menina mais tarde) ou a menopausa precoce. Pode ser gatilho para que também surjam outras doenças autoimunes como diabetes, psoríase, vitiligo, doenças inflamatórias intestinais e tantas outras, como Hashimoto (doença da tireoide), pode levar a formação de nódulos na tireoide, tumores intestinais de linfomas. As consequências são muito grandes.
Em crianças observamos déficit de aprendizagem, irritabilidade, alteração do sono, depressão no adulto e muitas vezes essas causas são tratadas e não melhoram porque a causa raiz, o problema Inicial não foi diagnosticado. Por isso é tão importante que tenhamos campanhas como essa, que se divulgue a Doença Celíaca, que se fale sobre ela.
Lembro também que não é só o fato de não diagnosticar que traz consequências, mas também a não adesão à dieta correta que é a dieta isenta de glúten e livre de contaminação cruzada.
Por favor nos ajude nessa campanha!
Dra Danielle Kiatkoski Gastroenterologista Consultora Técnica da FENACELBRA
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